Você já deve ter ouvido que “informação é poder” (ou variações disso, como “conhecimento é poder”). De fato, vivemos na Economia do Conhecimento e a informação virou uma moeda de troca.
Porém, há alguns anos, ouvi uma frase que achei fantástica (mas nunca consegui identificar quem é o autor original): “Toda abundância leva a uma nova escassez”.
Toda abundância leva a uma nova escassez
Do ponto de vista econômico, podemos argumentar que a informação, de modo geral, deixou de ter valor (valor econômico, naturalmente). Raras são as informações que não possam ser encontradas “em algum lugar”. Tudo é uma questão de saber onde (e como) procurar.
Quando pagamos um valor (financeiro) pela informação, em geral, estamos pagando uma “taxa” por não saber onde encontrá-la em outro lugar.
O problema que temos, agora, não é que a informação perdeu valor: Ela tem valor econômico “potencialmente negativo”.
A informação tem um problema difícil de gerenciar, que é o fato de que raramente conseguimos formar uma conclusão sobre ela sem consumi-la na totalidade. Quando você vai a uma loja de roupas, você pode experimentar a roupa e, rapidamente, chegar à conclusão de que ela “não é para você”. Se você vai a um restaurante e a comida está ruim, você descobre isso rapidamente e pode pedir outro prato (ou, simplesmente, cair fora dali). Você não precisa comer até o fim para descobrir que não gostou.
A informação, atualmente, tem valor econômico “potencialmente negativo”
Com a informação, não funciona desse jeito. Às vezes, um conteúdo é tão ruim (pode ser um artigo, um curso, um filme, um livro…) que, rapidamente, a gente já percebe que vai “sair bobagem” dali ou, na melhor das hipóteses, será apenas “mais do mesmo”.
Mas nem sempre conseguimos identificar esses padrões rapidamente e, na hora que descobrimos que perdemos tempo precioso com aquilo, já é tarde demais. Várias vezes comprei coisas com as quais fiquei insatisfeito e pedi a devolução do dinheiro. Ainda estou tentando descobrir numa forma de devolverem o meu tempo…
A informação tem um custo altíssimo. Mesmo quando ela é gratuita (em termos financeiros), o custo de oportunidade é gigantesco, pois, para absorvê-la, estamos investindo o recurso mais raro e escasso de nossas vidas: o tempo.
O custo de oportunidade da informação é gigantesco, pois, para absorvê-la, estamos investindo o recurso mais raro e escasso de nossas vidas: o tempo
Benjamin Franklin já dizia “tempo é dinheiro”. O tempo é caro, escasso e não tem volta. O investimento em tempo que fazemos para consumir certos conteúdos pode facilmente, se traduzido em termos financeiros, ser muito maior que o preço pago pelo conteúdo (e o conteúdo “gratuito” jamais será, verdadeiramente, gratuito… Custo de oportunidade!).
Bem, eu sou um produtor de conteúdo (então devo dizer que, possivelmente, eu sou mais “parte do problema” do que da solução). Em minha defesa, devo dizer que sempre procuro fazer com que o caminho do indivíduo que busca o conhecimento até aquilo que ele quer saber seja o mais rápido e menos tortuoso possível (ainda que nem sempre eu tenha sucesso nisso). Mas, pelo menos, eu tenho consciência do problema e eu tento…
Mas, para poder produzir conteúdo, é inevitável que eu, ocasionalmente, tenha que consumir conteúdo produzido por outras pessoas (até para ter referências de como essa informação está sendo entregue ao público).
E o que eu posso dizer é que me sinto roubado. E não estou falando de dinheiro – o dinheiro é o MENOR dos problemas. A leitura de um livro típico é algo que custa algumas horas. Idem para um documentário ou curso.
Eu já tive alguns livros publicados e, por conta disso, tenho bastante contato com editoras (inclusive editoras das quais não sou autor). Uma vez, ouvi de alguém ligado a uma editora que o livro precisa “dar lombada” (“lombada” é a parte lateral do livro, que fica exposta, com o título, quando ele é colocado numa estante). O comentário pode parecer inocente, mas, no contexto em que essa frase foi proferida, era uma instrução aos autores de livros para “encherem linguiça”, de forma que o livro ficasse suficientemente grande para ser visível numa estante (além de reforçar a ideia de valor pelo tamanho, como se um livro fosse apenas “papel pintado” – quanto mais papel pintado, mais ele deve valer…).
A maioria dos livros novos, especialmente no segmento de negócios, é um mero cartão de visita para seus autores (para alavancarem suas carreiras como consultores ou palestrantes). Grande parte desses livros poderia ser, no máximo, um artigo… E, ainda assim, um artigo de conteúdo não original e requentado.
E mesmo os artigos… Os mecanismos de busca estão mudando a nossa forma de escrever. Cada vez mais, vemos artigos desnecessariamente longos e cheios de palavras repetidas, apenas para agradar ao “deus Google”.
Cada vez mais, vemos artigos desnecessariamente longos e cheios de palavras repetidas, apenas para agradar ao “deus Google”
Cursos, então, nem se fala. É frustrante passar um final de semana inteiro num evento que se revela apenas um “pitch fest”, ou então vendo cursos online com dezenas de horas de duração (e com custo de milhares de reais) que não entregam nada novo. Os milhares de reais a gente recupera de alguma forma. Já as dezenas de horas…
Existe uma crença de que “todo conhecimento é valioso” e essa crença virou um tabu. Questionar isso raramente é uma coisa bem recebida. O problema é que está cada vez mais difícil diferenciar o que é conhecimento relevante daquilo que é apenas informação (e, muitas vezes, informação errada ou repetitiva).
Existe uma crença de que “todo conhecimento é valioso” e essa crença virou um tabu
Isso acaba (ou vai acabar, inevitavelmente) nos levando a uma situação em que vamos ter que dizer “não” para o conhecimento. Vamos ter que aplicar um filtro e, como todo filtro, ele não será perfeito. Conhecimento valioso acabará sendo “barrado” por esse filtro e vamos acabar perdendo alguma coisa no processo. Mas a perda pode ser pequena perto da “outra perda”, que é a perda de tempo.
Para finalizar: Se você chegou até aqui, é porque deve se interessar por assuntos como conhecimento, cognição, aprendizado, economia (otimização de recursos – não só financeiros!), tomada de decisões e pensamento crítico. Que tal, então, levar uma palestra minha para a sua organização?
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André Massaro